Padioleiro “estagiário” vira veterano durante forte batalha da FEB

Padioleiros da FEB. Raimundo exerceu essa função. Foto: FGV, reproduzida com autorização da Fundação concedida para a página V de Vitória

Raimundo de Castro Sobrinho nasceu em Itapipoca/CE. Em 1941 estava no Exército em Fortaleza/CE. Quando a guerra foi declarada e a Força Expedicionária Brasileira –FEB formada, ele era Cabo e se voluntariou para combater. Foi mandado ao Rio de Janeiro, onde as tropas se concentravam para seguir rumo à Itália.

Lá, ele fez o curso de padioleiro. Teria a missão de resgatar feridos e mortos nos campos de batalha. Seguiu junto com o Depósito de Pessoal, a reserva da FEB que se empenhava nos serviços de retaguarda, logística e recompletamento de soldados tirados do front por ferimentos, transferências ou morte.

Um dia, feriram um padioleiro. Raimundo foi chamado e, imediatamente, colocado no lugar dele, no 11º Regimento de Infantaria, integrado na 7a Companhia do III Batalhão. Na primeira vez em combate, coube acompanhar os soldados que entravam em Castelnuovo, em 06 de março de 1945. Monte Castelo havia ficado para trás, 13 dias antes e, agora, os brasileiros começavam um novo avanço.

A batalha teve início de dia e se prolongou também pela noite, com os brasileiros usando holofotes para iluminar aquela escuridão. Eles batiam a luz nas nuvens e isso clareava o caminho dos infantes. Depois batiam as luzes diretamente em cima das vias da cidade. Uma medida tão astuta, que pegou os alemães de surpresa e garantiu a vitória.

“Já integrado na Companhia para que fui designado, juntamente com outros padioleiros, fomos cumprir determinada missão. Nela, estávamos eu e outro padioleiro, um catarinense. Eu era quase um estagiário. Começaram a cair umas granadas de artilharia em cima da gente. Então, corremos de um lado para o outro para fugir dos arrebentamentos, sair do campo de tiro, que é muito perigoso,buscando abrigo em outros lugares mais seguros, por exemplo: dentro de um buraco aberto pela explosão anterior de alguma granada”, conta Raimundo.

Nesse tumulto que é o combate, um soldado que corria na frente deles caiu, já sangrando, e o padioleiro mais experiente correu ajudar. “Naquele momento, caiu outra granada, o catarinense foi ferido e morreu; morreu na minha presença”, explica.

Raimundo respirou, tomou coragem e foi ver a situação. Não havia o que fazer, a missão precisava ser concluída e foi isso que ele fez. Estava sem nenhuma arma, pois, os padioleiros não as usavam. Andavam desarmados. O “estagiário” foi promovido a “veterano” no mesmo dia em que começou a trabalhar. “Passei a ser o titular, e não mais um neófito, como dizem. Daí por diante, na frente, passei a acompanhar todos as operações de combate de que minha Companhia participou, com a minha padiola e a bolsa de curativos. Este foi o meu batismo de fogo”, relembra o cearense.

Paúra

Raimundo, em 2016

A vontade de viver e o instinto falaram mais alto naquele dia e Raimundo admite que pensou que de fato teria o mesmo destino do catarinense. “Não vou dizer que não tive medo. Quando começam a cair as granadas de artilharia e o combatente é iniciante, ele fica meio nervoso e irrompe um pouquinho de “paúra” (medo); isto não deixa de ocorrer; mas há homens em quem o medo é maior; a minha “paúra” era tolerável, dava para suportar; Deus me ajudou, até que,no fim, saí são e salvo. Graças a Deus, estou aqui contando estas histórias”, afirmou o Pracinha.

 

OBS: até 2016, Raimundo constava como presidente da Associação de Ex-combatentes do Ceará. Se alguém tiver notícias dele e puder compartilhar, agradecemos.

 

Fonte V de Vitória com informações de História Oral do Exército na Segunda Guerra Mundial, Tomo II. p. 86

 

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