Não é verdade dizer que italianos valorizam mais a FEB do que os brasileiros

Toda vez que há algum post sobre a Força Expedicionária Brasileira – FEB, não falta quem diga que os brasileiros são mais valorizados na Itália do que no Brasil. Mas, será verdade?
Baseados em dados quantitativos (que medem quantidade e não a qualidade), é possível dizer que a informação é falsa. Confira!
ALERTA: esta não é uma notícia para saber quem fez mais ou menos, quem ama mais ou menos a FEB e sim para confrontar o argumento de que estrangeiros fazem mais pelo Brasil do que os próprios brasileiros.
Na Net
No buscador Google, quando digitado o termo em italiano “Forza di spedizione brasiliana”, aparecem 14 mil resultados, contra 348 mil referentes à Força Expedicionária Brasileira. Ainda que sites italianos tivessem usado o termo em português, teriam que publicar pelo menos 25 vezes mais para alcançar os brasileiros, que seguem constante expansão no que se refere à postagens sobre o tema.
O mesmo se dá com a quantidade de notícias. Com “Forza di spedizione brasiliana” são 91 resultados e com Força Expedicionária Brasileira, 233. Nas sugestões de livros, são 26 citações com “Forza di spedizione brasiliana” e mais de 100 com Força Expedicionária Brasileira, retornando à mesma lógica, que ainda que os italianos usassem a nomenclatura original, no idioma de Camões, ainda teriam que trabalhar bastante para alcançar o quantitativo brasileiro. No caso dos livros, com os dois termos, ainda aparecem trabalhos em inglês e alemão citando os Pracinhas.
No Youtube, quem pesquisar por “Forza di spedizione brasiliana”, encontrará 22 vídeos e com Força Expedicionária Brasileira, 2.800.
No Google acadêmico, que reúne pesquisas científicas do mundo todo, com “Forza di spedizione brasiliana”, são 13 resultados em italiano e 11 para “brasile in guerra”. Já com Força Expedicionária Brasileira são 3.470.
No Facebook, são aproximadamente 80 páginas destinadas aos entusiastas da FEB (algumas delas com mais de 70 mil seguidores) e pelo menos 20 grupos. Há menos de dez páginas italianas destinadas 100% à FEB.
Fora da net

No trabalho “Entre a comemoração do passado e a construção do futuro: os monumentos da FEB em seus contextos”, de Uri Rosenheck, publicado em 2008, eram 192 monumentos à FEB, catalogados “ até meados dos anos 80, em 165 cidades”. Atualmente, esse número deve estar passando dos 220 ou 230, tendo em vista que todos os anos são feitas homenagens aos Pracinhas, com placas e mesmo esculturas.
Porém, o autor fez um alerta no trabalho que publicou. “As asserções contemporâneas sobre o esquecimento da FEB podem ser verdadeiras, porém os monumentos, também como outras fontes (panfletos políticos, prontuários e dossiês nas policias políticas, romances, livros escolares, histórias em quadrinhos e outros) mostram que nem sempre foi assim. Temos que tomar cuidado com o anacronismo [comparar épocas diferentes como se fossem as mesma coisa, sem contexto] e reconhecer que em certas épocas a memória da FEB teve um papel de maior relevância nos âmbitos pessoal, local e nacional”.
Já na Itália, conforme CD Room com fotos, entregue em 2013 para a Redação aqui do blog, a quantidades de monumentos se aproximavam dos 30 a 40 (com as inaugurações do últimos anos), e boa parte deles foi entregue pelo próprio Exército Brasileiro em parceria com autoridades locais italianas.
Fora essas homenagens, no Brasil, segundo os Correios (em seu site oficial), há sete ruas ou avenidas “Força Expedicionária Brasileira”, 15 ruas da FEB, 150 Monte Castelo, 42 Montese, sete Castelnuovo, duas Zocca, uma Collecchio e sete Fornovo di Taro. Os nomes de localidades se ferem à combates da FEB na Itália entre 1944-45.
Fora isso, se considerados apenas os generais mais famosos da FEB, temos nada menos que 135 ruas ou avenidas Mascarenhas de Moraes, 19 Zenóbio da Costa, cinco Olympio Falconiére, 18 Cordeiro de Farias e ainda oito ruas “do Pracinha”. O número seria bem maior se fossem considerados nomes de ex-combatentes de todo o país, elevando o número de homenagens aos soldados e oficiais à casa dos milhares de logradouros.
O eterno vídeo das crianças
Quem acompanha a FEB, pelo menos uma vez na vida já deve ter visto o vídeo abaixo. É exatamente este vídeo, em várias versões, que tem servido como munição para quem erroneamente afirma que a FEB é mais valorizada lá fora do que no Brasil.
Ele foi gravado em 2015, durante o feriado de 25 de abril, dia da Libertação da Itália, em Montese, sendo a comemoração repetida em outros anos, em menor escala. As crianças da cidade são ensinadas sobre a FEB, da mesma forma que acontece no Brasil. A diferença é que a memória local é muito mais forte, pois, os avós e bisavôs delas vivenciaram aqueles dias de sofrimento. A própria cidade serve como sala de aula aberta para os alunos.
Conforme o pesquisador italiano, Giovanni Sulla, que mora em Montese, a primeira homenagem oficial foi em 1995, com a inauguração de um monumento na cidade e exposição de material que ele possui sobre a FEB. Naquela época, havia Pracinhas presentes na homenagem, inclusive Iporan Nunes, o tenente que entrou primeiro no município com seus soldados.
A ideia de cantar a Canção do Expedicionário e, 2015 foi do próprio Giovanni. As crianças venceram o desafio do idioma e cantaram, conforme se vê abaixo.
Por isso, a comemoração do vídeo é localizada e datada. Não é todo dia que as crianças lembram os Pracinhas (exceto se levado em consideração o fato que passam por locais de memória da batalha, como a centenária fonte no centro da cidade). Em outras cidades libertadas pelos brasileiros há cerimônias bem menores que as registradas em 2015 em Montese. Costumam participar autoridades civis e militares italianas e brasileiras e, mesmo assim, em datas específicas.
Então, da próxima vez que você ouvir alguém dizer que na Itália valorizam mais a FEB do que no Brasil, desconfie, pois, quantitativamente, não é isso que ocorre. Já quanto à qualidade, aí os critérios poderão variar de pessoa para pessoa.
Crianças BRASILEIRAS cantando hino da FEB com Expedicionário presente
Índice por habitante
Para não ficar injusto, comparamos o índice de menções e monumentos, de forma proporcional ao número de habitantes de cada país, a saber: Brasil: 209, 5 milhões de pessoas e Itália: 60,3 milhões de pessoas. Ainda assim os brasileiros estão bem a frente. Confira:
Índice de menções do Google proporcional ao tamanho dos países
Brasil: 0,0016
Itália: 0,0002
Índice de menções do Youtube
Brasil: 0,000013
Itália: 0,0000003
Índice de menções no Google Acadêmico
Itália: 0,00000003
Brasil: 0,0000165
Índice de páginas no Facebook
Brasil: 0,0000003819
Itália: 0,0000000332
Índice aproximado de monumentos erguidos
Brasil: 0,0000010501
Itália: 0,0000006633
Matéria atualizada às 12h55 para acréscimo de informações.
Veja também: Aumenta o interesse pela FEB na “net” e nas Academias, mostra levantamento
Apenas um lembrete: Monumentos, homenagens e flores, não auxiliaram os pracinhas quando voltaram e nos anos subsequentes. Eles e seus dependentes, sabem como foram tratados.
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