Jornalismo de Guerra

No final da II Guerra, com a perseguição brasileira fechando o cerco sob os alemães na Itália, o correspondente do Diário Carioca, Rubem Braga escreveu uma crônica que dizia:

“(…) De um modo geral, o nazista sabe que não voltará. Lenta ou apressadamente, do sul para o norte, do ocidente para o oriente, do oriente para o ocidente, o alemão recua e sabe que não voltará.

Chegará o dia, talvez próximo, que ele não terá aonde ir, a não ser para o inferno. Sim, este soldado alemão desta guerra está condenado, mas o fascismo pode voltar e estamos chegando no momento de decidir esse problema: fazer com que o nazista não volte! Com este nome, ou com outro nome qualquer, na Alemanha ou fora da Alemanha.

Ele pode brotar outra vez do chão na Europa, ou na Ásia ou mesmo em nossa América. E ninguém se iluda! Acabar com as injustiças nacionais e sociais que são o caldo de cultura do fascismo e das guerras será uma grande luta do povo e uma luta mais dura. Mas creio que vale a pena lutá-la pela mesma razão que vale a pena lutar essa guerra de hoje.

Tenho um filho. É ainda um menino – tem muitos caminhos a andar no mundo, e não pretendo que ele sempre ande por estradas de rosas, como um pequeno vagabundo no Reino da Felicidade, mas eu pretendo que ele nunca precise andar pelos caminhos que os Pracinhas Brasileiros estão trilhando hoje.

A terra não foi feita para plantar minas: mas essa terra dos homens, em que se plantando dar-se-á nela tudo. Essas lavouras do futuro que meu filho e vosso filho vão colher amanhã – nós é que semearemos agora.

Rubem Braga, Itália, 1945″