FEB: neto revela história por trás de famosa foto da rendição dos alemães aos brasileiros
A história por trás das fotos: três momentos do Major Altair Franco Ferreira e quem identificou como sendo ele, foi o neto do mesmo, o colega José Maria Franco Ferreira.
Segundo José Maria, o avô famoso nasceu no Rio de Janeiro em 1902 e aprendeu a falar alemão porque, em 1910, o pai dele foi fazer uma especialização no Exército Alemão. Altair estudou na escola primária e aprendeu o idioma.
De volta ao Brasil com a família, sempre foi muito estudiodo. “Era sempre 1º de turma, clássico CDF e entrou para escola militar de Realengo em 1920. Em 1922 foi expulso com toda sua turma por apoiarem o movimento tenentista”, explica o neto.
Foi então que Altair fez concurso para o Banco do Brasil e foi transferido para Porto Alegre. Lá ele conheceu e se casou com Alba Glória de Barbedo Franco Ferreira , irmã de Alceu Barbedo, que foi Procurador Geral da República de Getúlio Vargas no Estado Novo. “Tiveram 3 filhos: Regina Helena, Alba Maria e meu pai Paulo Roberto”, contou José Maria.
Novos tempos
Com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder, em 1930, Altair pôde voltar ao exército, sendo anistiado com toda sua turma, das acusações sobre o movimento tenentista. “Ele e sua turma eram chamados de ‘Picolés’. Fez uma carreira brilhante, foi à II Guerra como Major”, comenta José Maria.
Altair servia no Quartel General do general Olympio Falconiére, comandante dos órgãos não-divisionários. Por isso, quando Falconiére recebeu a rendição de Otto Fretter-Picco, da 148ª Divisão de Infantaria Alemã, o major Altair estava junto intermediando as conversações. No dia da rendição, por conhecer o idioma alemão muito bem, Altair foi um dos primeiros oficiais a estabelecer contato com o Estado Maior Nazista. Logo, não era de se estranhar que estivesse na foto recebendo a arma do Coronel Otto Von Kleiber (primeira e segunda foto).
“Em 1959 servia em São Paulo e foi o interventor na Força Pública quando fizeram uma quartelada. Em 1961, era Coronel e há uma passagem marcante em sua carreira. Estava fazendo a ESG [Escola Superior de Guerra] quando o Jânio [Quadros] renunciou e perguntaram para ele o que ele achava, já que a caserna como todos sabem, não queria que o Jango assumisse. Ele foi direto ao ponto: ‘o que diz a Constituição ?’ – o vice presidente assume [responderam] – ‘então que se cumpra a carta magna!’. Nossa família acha que ali ele abreviou sua carreira”, lembrou o neto.
Em 1964
“Em 1964 servia em Recife já como General e teve a missão de prender o Governador Arraes, do qual era grande admirador. A ordem era algemá-lo, coisa que se recusou e com todo respeito comunicou ao governador que teria que cumprir essa triste missão, mas, que em hipótese alguma iria algemá-lo. Em 1967 era o 1º da lista para General de Exército, mas, o Presidente Castelo Branco o chamou à Brasília para comunicar que não poderia promovê-lo já que precisaria de Generais políticos e ele era um clássico legalista. Como tinha ido a guerra, se reformou como Marechal e durante alguns anos foi um dos únicos do Brasil”, relembra José Maria sobra a época da subida dos militares ao poder.
Os últimos anos, na visão do neto
“Sua vida era o Exército, um verdadeiro soldado. Recusou vários convites para trabalhar em multinacionais. Naquela época todos queriam militares por perto, mas, sempre recusou. Logo depois de reformado descobriu um câncer de próstata que fez questão de operar no hospital e com médicos do exército, onde fizeram uma barbeiragem que o deixou até os seus últimos dias com incontinência urinária, o que o incomodava muito. Deu sua vida ao exército e nada mais o interessava. Se tornou um excelente cozinheiro e adorava reunir a família em almoços e jantares com no mínimo 2/3 tipos de pratos . Nos deixou em 1980 com seu câncer já avançado e com metástase nos ossos.
Eu tinha 17 anos. Na verdade aproveitei pouco meu avô, meu pai era filho Temporão. Se tivesse nascido uns 10 anos antes, iria sugar todo seu conhecimento! Ele adorava falar da guerra a que se interessava. Seu único bem era um apartamento na Tijuca [RJ], Edifício Fornovo, na Conde de Bonfim, construído pelo exército! Do nosso lado Franco Ferreira ninguém deu continuidade na carreira. Meu pai estudou no colégio militar na mesma turma do Artur Moreira Lima, Paulo Silvino e Castrinho, mas, estudou Administração e fez carreira no Banco Central, chegando a Diretor de Administração. Tenho relatos , documentos e medalhas dele, ficou tudo comigo”, finalizou o neto.
Curiosidade
1 – Além de Altair, um primo dele também foi para a guerra. Se chamava Flávio Franco Ferreira, Capitão do Esquadrão de Reconhecimento da FEB. Ele foi ferido em batalha. O filho de Flávio, Gustavo Adolfo Franco Ferreira foi Coronel da Aeronáutica quando adulto.
2 – Altair Franco Ferreira tinha também descendência paraguaia. Isso porque o avô dele, Tenente José Joaquim Ferreira, foi companheiro de batalhas de Floriano Peixoto durante a Guerra do Paraguai e se casou com uma paraguaia, Dolores Bibiana Franco. Daí surgiu o nome da família: Franco Ferreira. O filho do casal, que também foi militar, se chamava José Maria Franco Ferreira e nasceu no Paraguai.
O neto de Altair, que foi quem nos passou as informações, também se chama José Maria Franco Ferreira, em homenagem ao antepassado nascido em terras guaranis.
Para baixar o documento com a história completa, redigida pelo próprio Major Altair, nesse link: SKMBT_C224e18071606300.