Para não errar mais: saiba o local das fotos mais confundidas com Monte Castello
Já faz algum tempo e nos últimos anos não tem sido diferente: organizações militares, departamentos do Estado e parte da imprensa, ao buscar homenagear a vitória da FEB em Monte Castello, acabam por usar fotos erradas. A cada ano os erros diminuem, mas não desaparecem. A maioria das fotos equivocadas se refere à Rocca Corneta.
Rocca Corneta?
Sim, Rocca Corneta, que fica de 14 km a 20 km de Monte Castello. São 14 km se a pessoa for caminhando (trilhas alternativas) e 20 km se for de carro (rodovias).
Os alemães já mantinham a localidade em sua zona de controle, desde pelo menos junho de 1944. É certo que em 24 de outubro de 1944, forças alemãs ocupavam a localidade efetivamente, conforme anotou o tenente Henrich Boucsein, que servia na 232ª Divisão de Infantaria. Segundo ele, a linha tedesca começava em Libro Aperto, cortava Rocca Corneta, Abetaia e finalizava em Santa Maria Villiana, a 1,5 km de Castelnuovo do Vergato (livro Bombardeiros, Caças, Guerrilheiros – Finale Furioso na Itália, p.113).
Terror em Rocca Corneta e Fanano
Em 21 de junho de 1944, um fato entrou para a história do pequeno povoado. Isso porque, uma patrulha de partigiani (combatentes da resistência italiana que reuniam de comunistas a monarquistas em suas fileiras), explodiram a ponte que ligava a Rocca Corneta a Fanano (vilarejo vizinho). Logo em seguida, eles emboscaram um carro alemão que se aproximava, matando o motorista, um carona e ferindo um terceiro inimigo.
O ferido conseguiu escapar e chamar reforços. Os tedescos voltaram com muita gente e foram procurando os culpados de casa em casa. Em uma delas, estavam os irmãos Pietro e Domenico Fiocchi. Pietro chegou a constar, no pós-guerra, como combatente da 7ª Divisão Modena (Brigata Garibaldi), mas, não há confirmação de que tenha sido partigiani. Domenico tinha 49 anos e Pietro 41 anos. Os dois foram julgados e mortos ali mesmo. Ambos não tinham participado da ação de sabotagem e nem da emboscada.
Outras pessoas da família deles e vizinhos, foram capturados e espancados. Segundo Massimo Turchi, escritor e pesquisador italiano, aparentemente, fascistas da área também participaram da ação e obrigaram que dois outros homens cavassem os túmulos dos civis assassinados.
Porém, os crimes de represália não pararam por ali. Após torturas, os alemães conseguiram alguma informação que havia partigiani escondidos em Fanano. Foram para lá e espancaram e torturaram mais alguns residentes. Mataram mais um civil, incendiaram a casa de um suspeito e quando um dos donos da residência quis salvar um móvel, foi baleado na cabeça e morto.
Vendo a situação, um padre e uma mulher (que seria inglesa e falava algo de alemão), intercederam pelas pessoas da comunidade. Os alemães disseram que não fariam mais nada, se pudessem sair dali com reféns para não serem perseguidos, pois, a população estava furiosa. Antes de sair, ainda mataram um marinheiro que estava de licença, de sobrenome Bicocchi, assassinado sem culpa alguma, e os moradores receberam ordem de não tocar no corpo.
Os agressores deixaram a localidade e se dirigiram para Lizzano in Belvedere, levando com eles 10 reféns. Em Lizzano, os partigiani confrontaram os alemães e dois guerrilheiros que ficaram para cobrir a retirada dos colegas, foram mortos (Agostini e Gubellini). Os corpos foram deixados pendurados na janela da prefeitura e com ordem que não era para os retirarem. Foram amarrados cada um em uma ponta de corda, com uma grade no meio, dando sustentação. Todos os relatos acima resultaram de leituras, documentos e entrevistas de Massimo Turchi e Alessandro Gherardini.
Os partigiani e os brasileiros
Em 17 de outubro de 1944, com a conquista do Vidiciatico, a Linha Gótica, da qual Rocca Corneta fazia parte, entrou nos planos de ataques dos americanos, como um dos pontos de apoio para Monte Belvedere. A 7ª Divisão Modena (Brigata Garibaldi) foi reconhecida como co-beligerante dos americanos e indicada para a missão, conforme relatos do portal “La Linea Gotica”.
Nos ataques da Task Force 45, à Monte Belvedere (e redondezas), em que os brasileiros lutaram por Monte Castello, em 1944, os combatentes da resistência também investiram contra Rocca Corneta, obtiveram sucesso, porém, não puderam manter o posto, afinal, de modo geral, os ataques falharam.
Foi somente em 1945, no dia 22 de fevereiro, quando os brasileiros já estavam em posse de Castello, é que os italianos puderam fincar pé na Rocca Corneta. E a conquista coube à Brigada Matteotti e às frações da Brigata Garibaldi, pois, seu líder, Armando, estava em Roma e o grosso do pessoal, em Pistoia, descansando. Atacaram sob as ordens do 87º Regimento de Infantaria dos Estados Unidos, que foi quem manteve Rocca Corneta e a entregou, já em 28 de fevereiro de 1945, para soldados da FEB, do 1º Regimento de Infantaria, que ficaram na posição até 22 de março de 1945.
Em 1º de março de 1945, a 1ª Cia do 11º Regimento de Infantaria, também foi enviada para Rocca Corneta, para ações de patrulha. Ficaram ali por três dias e nesse tempo levaram nada menos do que 200 granadas de morteiro, que feriram seis soldados brasileiros com estilhaços.

Thassilo Mitke, do Departamento de Imprensa e Propaganda, fotógrafo e redator, que pode ter sido quem tirou a icônica foto de Rocca Corneta, acompanhou parte da missão da 1ª Cia e também anotou os seis feridos no livro “A luta dos Pracinhas”, que escreveu junto com Joel Silveira. Porém, marcou a ação como tendo sido em abril e não em março. O livro foi escrito décadas depois do ocorrido. “Sobre um monte, a construção simples era provida de um cone interior que soava quando vento dos Apeninos batia forte” (p.104), escreveu ele sobre a origem do nome da localidade.
Para o ataque a Castelnuovo de Vergato, a 9ª Companhia do 6º Regimento de Infantaria partiu exatamente de Rocca Corneta, segundo o Capitão Antorildo Silveira, observador avançado do 6º Regimento de infantaria, no livro “O 6º Regimento Expedicionário”, (p.81).

Depois de 22 de março, o front avançou e Rocca Corneta ficou para trás, como somente mais um ponto para a memória dos Pracinhas que por ali passaram. No Diário de Campanha do 1º Regimento ficou anotado que de 12 e 19 de março de 1945, foram executadas 34 patrulhas e golpes de mão contra o inimigo, algumas delas saídas de Rocca Corneta.
As duas fotos abaixo são de Monte Castello (Arquivo Nacional)
As fotos abaixo são de Rocca Corneta (Arquivo Nacional)
Agora veja as fotos atuais do local, feitas pela Associazione Linea Gotica – Officina della Memoria e por Roberto Montanari
Abaixo, as fotos erradas de 2021
Agora, as fotos erradas de 2022
Para não ter erro, a foto do site Old News of the War, na melhor das comparações:

Olá! Apenas uma correção. A foto onde se destaca uma patrulha, em Rocca Cornetta, a torre que se referem como sendo da igreja “Torre da Igreja”, ao fundo, na realidade é apenas uma torre, a qual foi utilizada como P.O., onde, em outras fotos aparece um pracinha, com binóculo. A igreja de Rocca Cornetta fica bem no sopé dessa elevação, onde está a torre. Tenho fotos da igreja de Rocca Cornetta, caso queiram.
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