Novo livro sobre a FEB conta trajetória de pracinhas brasileiros na Segunda Guerra Mundial

Capa do livro (Foto: Insight Books)

Foi lançado no último dia 20 de outubro, em Juiz de Fora/MG, o livro “Guerreiros da Província: a jornada épica da Força Expedicionária Brasileira” (Editora Insight Books), de Durval Lourenço Pereira. A obra retrata da trajetória da Força Expedicionária Brasileira – FEB, desde sua idealização até os combates que se deram em solo italiano, contra o nazifascismo, na Segunda Guerra Mundial.

Além de abordar a FEB, Durval reconstituiu através de pesquisa bibliográfica em fontes primárias, secundárias e documentações inéditas, o processo que levou o Brasil a entrar naquele conflito e os bastidores das decisões políticas nas relações Brasil e Estados Unidos. A travessia do Atlântico, o desembarque em Nápoles e a primeira fase da campanha não são deixados de lado nas 420 páginas do livro.

Durval é tenente-coronel do Exército, bacharel em Ciências Militares e mestre em Operações Militares, além de cineasta e documentarista. Guerreiros da Província está à venda na Amazon pelo valor de R$ 69,60 e também há a versão digital. No site da editora há o sumário ilustrado (veja aqui).

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OPINIÃO DO REDATOR

Guerreiros da Província: um livro para conhecer a FEB desde o começo

*Helton Costa

Foto: Insight Books

A convite da editora Insight Books, fiz a leitura do livro Guerreiros da Província: a jornada épica da Força Expedicionária Brasileira, de Durval Lourenço Pereira, lançado no último dia 20/10. De início, preciso dizer que conheço o trabalho do Durval pelos documentários dele: O Lapa Azul: os homens do III Batalhão do 11º RI na II Guerra Mundial (2006) e Navalha: um batalhão brasileiro na Linha Gótica (2016), ambos merecidamente premiados e muito bem executados. Também já havia lido Operação Brasil: O ataque alemão que mudou o curso da Segunda Guerra Mundial.

O Guerreiros da Província é um livro bem documentado, com bibliografia especializada, fontes primárias e secundárias, além de tradicionais nomes da pesquisa historiográfica sobre a FEB, incluindo documentos inéditos que foram desclassificados da categoria secreta ou restrita nos últimos anos. O texto é bem escrito e prazeroso de ler.

Há adjetivações como forma de ressaltar situações, personagens e contextos, o que para um historiador pode soar excessivo, mas não vejo como demérito. Creio que, para o grande público, isso não será nenhum empecilho, podendo até ser uma virtude para quem aprecia textos com mais liberdade quanto à forma. O texto não se propõe a ser acadêmico no sentido de seguir um padrão de escrita da academia, mas, certamente constará em breve como referência bibliográfica em artigos e livros da área da História e afins.

Durval faz uso de termos que dariam boas frases para manchetes de jornais, como ao escrever que “grassava o clima de histeria na terra do Tio Sam” (p.39), ao descrever os momentos tensos em torno da cessão ou não das bases brasileiras para os americanos no Nordeste. Porém, ao longo da obra, é possível perceber que essa foi a forma encontrada pelo autor para tentar aproximar o leitor da sua visão dos fatos.

A redação segue uma ordem cronológica, permitindo que quem conhece ou não a história da FEB se situe no tempo e espaço, aproveitando o modo como os fatos são contados aos poucos e de maneira compreensível.

Quem busca o livro apenas por histórias de pracinhas talvez se sinta decepcionado, pois a obra apresenta, com maior ênfase, o contexto desde o pré-guerra (bastante detalhado), passando pela preparação política e logística que gerou a FEB, até o desembarque em solo italiano. Tudo devidamente referenciado. A história dos soldados é diluída em meio aos acontecimentos e focada em alguns personagens já explorados em seus documentários anteriores.

Em alguns momentos, o autor aparenta assumir uma postura de único detentor da verdade, ao criticar estudos anteriores sobre a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial, observando que possam ter sido superficiais ou politicamente enviesados. É uma linha tênue. Por conhecer alguns dos autores ainda vivos e por ter lido muitos dos já falecidos, prefiro acreditar que cada um, a seu tempo e modo, deu sua contribuição para a historiografia da participação brasileira naquela guerra. Muitos outros, a exemplo do próprio Durval, ainda virão enriquecer nosso conhecimento sobre a FEB e outros momentos daquela luta contra o nazifascismo.

O Durval cineasta, observador e preciso nas descrições, aparece com maior ênfase no início de cada capítulo, ao apresentar um cenário imaginado do contexto dos acontecimentos. Ele faz isso várias vezes, principalmente para situar o leitor em um local ou época específica. Não tira o que escreve do acaso, o faz baseando-se em filmes e bibliografias da época, reconstruindo o momento com licenças poéticas e narrativas, porém, sem fugir da realidade.

O título do livro é justificado na página 101, quando ele conclui que os brasileiros convocados para a guerra eram pessoas que, nos Estados Unidos, receberiam o estereótipo de baixa renda, caipiras, “de origem rural e conservadora”. “O provinciano invariavelmente convocado em todas as guerras para resolver as pendências criadas por seus instruídos, ricos e sofisticados conterrâneos do litoral e metrópoles”.

Guerreiros da Província também agradará aos leitores interessados em detalhes da organização militar, com exposições minuciosas de manobras e planejamento de ações, reflexo da formação militar do autor, que além de cineasta é tenente-coronel do Exército, bacharel em Ciências Militares e mestre em Operações Militares.

Particularmente, achei importante e interessante o autor defender a FEB em relação ao livro de William Waack, o qual descreveu como controverso. Concordo que As duas faces da Glória, de autoria do citado jornalista, falhou ao pinçar documentos sobre os oficiais brasileiros, deixando-os fora de contexto e sem englobar o todo (ainda que o livro de Waack traga boas entrevistas que ninguém mais conseguiu fazer, com ex-oficiais alemães que enfrentaram os brasileiros — esse é um de seus méritos).

Destaco também os mapas, bastante informativos, que dão uma ideia clara das operações da FEB na Itália, além de fotos em boa resolução e outras inéditas, oriundas de acervos pessoais de soldados.

O livro tem 420 páginas, e é a partir da página 310 que começam os combates dos nossos jovens. Para minha surpresa, o livro encerrou-se na primeira fase da campanha, quando a FEB teve o revés de Sommocolonia (30 e 31/10/1944), o que me faz acreditar que, em um futuro talvez não muito distante, Durval dará continuidade ao trabalho que começou, narrando até a rendição e, quem sabe, abordando também o pós-guerra.

Eu recomendaria Guerreiros da Província para quem deseja entender como foi a participação da FEB na Campanha da Itália. Acompanhando Durval à distância, como cineasta, pesquisador e escritor, diria que este é um bom trabalho, enriquecido com fontes tradicionais e outras inéditas, sobre como foram aqueles dias em que os “guerreiros da província” estiveram à disposição da nação, oferecendo o que tinham de mais precioso: suas vidas. É um retrato sério da participação brasileira na Segunda Guerra Mundial. Saio satisfeito com o conteúdo e esperançoso de que a história continue em uma próxima obra. Gostei do que li e creio que os outros leitores também apreciarão.

*Helton é Doutor em Comunicação e Linguagens, mestre em Comunicação, especialista em Estudos da Linguagem e em Arqueologia e Patrimônio; bacharel em Jornalismo e licenciado em História. Pós-doutor em História pela Universidade Federal do Paraná. Autor de “Confissões do Front: soldados do Mato Grosso do Sul na II Guerra Mundial”, de “Crônicas de sangue: jornalistas brasileiros na II Guerra Mundial”, de “Dias de Quartel e guerra: diário do Pracinha Mário Novelli”, de “Camarada pracinha, amigo partigiani: anotações brasileiras sobre a resistência italiana na II Guerra Mundial”, de “Ao alcance da morte: ensaio sobre o estado psicológico dos soldados da FEB na Segunda Guerra Mundial”, de “Soldado 4.600: vida e luta do pracinha Manoel Castro Siqueira”, “Soldado Justino: um sobrevivente da FEB”, “Dever e honra: veteranos da FEB legalistas e militantes de esquerda contra ditaduras e golpes no Brasil – 1945-1995” e “Estrada para Assunção: imagens e memórias da Guerra do Paraguai/Tríplice Aliança, 160 anos depois”. É o editor deste site.

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