Mesmo ferido, pracinha feito prisioneiro retornou para linhas brasileiras
Por Helton Costa
No ataque ao Monte Castello, em 12 de dezembro de 1944, Acacio Lopes Teixeira foi ferido e feito prisioneiro pelos alemães, porém, retornou para as linhas brasileiras e seu caso foi motivo de investigação pelo setor de inteligência do exército. A história é a seguinte:
Acacio achava-se com seus companheiros (2º Pelotão, 6ª Companhia do II Batalhão, do 1º Regimento de Infantaria), junto à linha de partida para o quarto ataque ao Monte Castello. Por volta das 6h30 eles saíram com destino ao azimute (ponto exato) 355º. No entanto, os alemães instalados na cota 779 de Castello perceberam a aproximação e atiraram sem piedade. Nas palavras de Acacio, prestadas em depoimento após o retorno dele, “o inimigo estava fortificado em ‘túneis’ escavados na rocha” (possivelmente eram as ligações entre casamatas e posições de morteiros e metralhadoras que guarneciam a elevação).
No tiroteio, um rádio ficou para trás e Acacio foi buscar, momento em que foi alvejado. Segundo ele, ao tentar mover-se, não teve forças e ficou deitado onde estava, momento em que alguns alemães apareceram e o arrastaram para dentro de uma casa ao sul de Fornello, ali pero de Monte Castello mesmo. Na casa, um alemão tentou conversar com ele em italiano, o que ele fingiu não compreender e gemeu fortemente para fazer parecer que estava realmente ferido de forma muito grave.
Ele contou quatro alemães dentro da habitação, olhou para o lado e viu que ela estava fortificada com arame farpado e parapeitos. Mesmo assim, em um momento de descuido dos captores, ele simplesmente se esquivou e começou a fugir para o lado das linhas brasileiras, parando aqui e ali para recuperar-se. No caminho sentiu um forte odor e ao olhar com mais cuidado, percebeu que o cheiro vinha de corpos de brasileiros mortos nos ataques de 28/29 de novembro de 1944, o que causava, segundo o pracinha, “um cheiro insuportável”.
Já nas linhas brasileiras, Acacio foi atendido e depois interrogado, momento em que contou que quando estava na casa, viu mais dois brasileiros serem levados prisioneiros pelos alemães, ambos sem ferimentos.
Tal informação chamou atenção do setor de Informações, que quis ouvir o tenente Apollo Rezk, comandante do 2º Pelotão, afinal, queriam descobrir o motivo dos dois brasileiros terem sido feitos prisioneiros se não estavam feridos. Rezk foi direto: durante a progressão, o pelotão estava sob ataque e no desespero, dois soldados e um sargento tinham tentado convencê-lo para que se rendessem aos alemães, ideia recusada imediatamente, tanto que ele recuou até as linhas brasileiras com boa parte do pelotão. No entanto, os três que haviam feito a sugestão teriam mesmo se deixado aprisionar. Logo, Acacio ao ver os outros dois brasileiros confirmava a versão de Rezk. O assunto foi posto para investigação e não se falou mais disso após a guerra.
Outra versão
O correspondente de guerra de “O Globo”, Egydio Squeff falou com o Acacio após ele estar melhor de saúde e publicou o texto dizendo que o combatente foi ferido na perna, arrastado pela gola até a casa, teve cigarros roubados pelos tedescos e ainda lhe tomaram a ração de combate que levava consigo. Também teriam roubado o capote que o soldado vestia e o dinheiro dele.
Foi nessa hora, enquanto os soldados foram para outro cômodo da casa para conversar, que Acacio decidiu fugir, após ter ficado gemendo bastante, minutos antes. Primeiro teria se arrastado, avistado uma vala e se jogado nela. Por sorte, a artilharia brasileira começou a atirar e os alemães foram se proteger.
Anoiteceu e Acacio ainda estava na vala, escondido. Ninguém foi procurá-lo. De noite, a artilharia atuou novamente e ele deu um jeito de correr em direção aos clarões que via ao longe. Parando para ganhar fôlego, chegou de volta ao lado brasileiro.
E depois?
Acacio, que dissera ter fingido a gravidade do ferimento, pode não ter mentido tanto assim aos alemães. Isso porque, em 1946, o Diário Oficial da União trouxe a reforma do militar no posto de 3º sargento, por incapacidade física, o que mostra que pode ter sido retirado do front depois do trauma pelo qual passara. Em abril de 1945 ele já havia sido nomeado como merecedor da Medalha de Campanha por ter passado a guerra sem “nota desabonadora” de comportamento.
Na década de 50, ele compareceu algumas vezes na Seção de Aposentados e Pensionistas do Ministério da Guerra para comprovar informações pessoais e nas décadas de 1960 e 1970, também.
Conforme é possível observar em notícia do Jornal do Brasil, de 12/03/1980, Acacio não enriqueceu ou teve uma vida tão confortável, pois, constava na relação de famílias carentes atendidas pela Legião Brasileira de Assistência, com bolsas de estudo para filhos e netos. Porém, aparentemente o pracinha teve uma vida longa, pois, em 2003 constava na lista do Governo Federal, entre os recebedores da Medalha da Vitória, criada para homenagear soldados que haviam participado da FEB.


