O soldado que acreditava que vale a pena sonhar

 

apolonio

 Apolônio libertou com seu grupo, as cidades de Carmaux, Albi e Tolouse das mãos dos nazis. Crédito: ABI/Reprodução

Apolônio de Carvalho é um caso diferente de combatentes. Ele não pertenceu à FEB. Porém, enfrentou nazistas como soldado da Legião Francesa. Ele nasceu em Corumbá em 1912. O pai, Cândido Pinto de Carvalho Junior, também fora militar e participara do processo de Proclamação da República.

Os irmãos mais velhos até tentaram participar da 1ª Guerra Mundial ao lado dos franceses, mas foram detidos no Uruguai após terem saído de barco de Corumbá rumo à Europa.

Em 1930 Apolônio de Carvalho entrou para a Escola Militar do Realengo, onde teve contato com colegas comunistas. Um deles ficaria famoso na FEB mais tarde: Nelson Werneck Sodré, cassado pelos militares golpistas de 64. Em 1932 os dois trabalharam juntos na Revista da Escola Militar. Em 33 foi para o Rio Grande do Sul como oficial aspirante no 3º Grupo de Artilharia a Cavalo em Bagé. Em 1935 conheceu a Aliança Nacional Libertadora – ANL, fundada pelo Partido Comunista Brasileiro – PCB.

Em 1935 apoiou a Intentona Comunista e em 1936 foi transferido de regimento no quartel e, cassado junto com mais 69 oficiais. Teve a patente suspensa, foi preso e expulso do Quartel. Apolônio ficou preso no quartel do Rio de Janeiro, de onde só saiu em 1937.

Em 37 ele foi do Rio para a Bahia, onde embarcou para Paris e de lá para a Espanha, que na época estava em Guerra Civil. Apolônio então se uniu aos guerrilheiros que combatiam as tropas de Franco. Lutou ombro a ombro com os espanhóis em Valencia, Almanza, sul do Tejo e ficou baseado em Peraleda del Salcejo. Mais tarde passou por Teruel e Zalamea de la Serena.

Depois disso foi retirado das frentes de batalha e foi para Alcira, região de Valencia em 1938, ano em que deixou as chamadas Brigadas Internacionais em Barcelona. Ele saiu do território espanhol e entrou na França por Argeles como refugiado, sendo transferido para o Campo de Gurs, nos Pirineus Ocidentais, já em 1939.

Nisso tinha início a Segunda Guerra Mundial com invasão da Tchecoslováquia. No ano seguinte, 1940, seria a vez da França. Os alemães chegaram em junho e Apolônio saiu em maio de Gurs para Marselha, onde recebeu passaporte brasileiro no consulado, onde começou a trabalhar em 1942.

O pai dele morreu em 1941, enquanto ele estava fora do país. Em 42 ele deixou de trabalhar no consulado do Brasil com a declaração de guerra contra a Alemanha e a Itália. Daí então, conheceu Renee France, sua companheira pelo resto da vida.

Apolônio entrou para a Resistência Francesa em 1943 e em pouco tempo se tornou responsável militar pelo sudeste da França e mais tarde comandou o Francstireurs et partisans – main-d’œuvre immigrée (FTP-MOI), algo como Franco Atiradores e Partisans dos Homens Trabalhadores, uma ala da Resistência formada por imigrantes, com sede em Lyon.

Mais tarde, em 1944, no mês de janeiro, ele e Renee se mudaram para Nimes, onde organizaram o ataque à prisão local que libertou 25 prisioneiros dos nazistas. Depois se mudaram para Tolouse no mês de maio.

Em 6 de junho aconteceu o Dia D e os aliados desembarcam na França, ampliando as ações da Resistência. Foi nesse tempo, já em agosto, que Apolônio libertou com seu grupo, as cidades de Carmaux, Albi e Tolouse das mãos dos nazis. Em novembro nasceu o primeiro filho do casal, Rene-Louis.

Em 1945, ele e a família mudaram para Paris, já um lugar livre dos alemães. A guerra terminaria em maio na Europa e em agosto no Pacífico.

Em 1946 ele e a família se mudam para o Rio de Janeiro e em 1947, Apolônio se tornou o presidente da Juventude Comunista. Em 1947 nasceu outro filho dele, Raul.

Porém, as coisas haviam mudado e em 1946 o PCB fora posto na ilegalidade pelo Governo e ele com os filhos e a esposa se transferem para morar clandestinamente em São Paulo. Nunca deixou de ser atuante na comuna.

Em 1953 viajou para a União Soviética de onde só voltaria em 1957 para viver na semilegalidade. A perseguição tornara-se ainda mais forte. Em 1954, Getúlio Vargas cometera suicídio e o cenário político mudara no Brasil com a eleição de Juscelino Kubitscheck.

Na década de 60 veio o Governo de Jânio Quadros e em seguida João Goulart. Em 1962 foi fundado o PC do B. Mas, chegou 1964 e com ele o golpe militar. Para fugir de perseguições, Apolônio voltou ao Rio de Janeiro.

Em 1967 Apolônio e a Corrente Revolucionária do Estado do Rio deixaram o PCB e em 1968 ajudaram a fundar o Partido Comunista Revolucionário Brasileiro – PCBR. Em 1970 foi preso pelos militares e o companheiro de partido, Mário Alves foi preso e assassinado.

Mais tarde Renée e o filho Raul é que foram presos também. Eles ficaram presos na mesma cadeia que o ex-febiano Jacob Gorender. Foi nessa época que um comando revolucionário no Rio de Janeiro sequestrou o embaixador alemão e o trocou por prisioneiros, entre eles Apolônio, e mais 38 pessoas que foram liberadas e enviadas para Argel na África.

Em 1971 Renee e mais 68 prisioneiros foram trocadas pelo embaixador suíço, a exemplo do que tinha sido feito com o caso de Apolônio. Em 1972, Apolônio conseguiu visto e se instalou em Paris. No mesmo ano o filho Raul saiu da cadeia. A esposa foi ao encontro dele em 1973.

O ano não havia acabado quando o filho dele, Rene-Louis foi localizado e preso no Chile. Foi solto três anos depois.

Em 1979 o casal Carvalho retornou ao Brasil e em 1980 participou da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT).

Em 1987, por recomendações médicas ele se afastou da direção do partido. Participou da luta pela redemocratização do país e continuou militante socialista até os últimos dias, vividos na Casa de Saúde Portugal, na zona Norte do Rio de Janeiro, onde faleceu na tarde de 23 de setembro de 2005.

No Mato Grosso do Sul foi homenageado com o nome Memorial da Cidadania e da Cultura Popular Apolônio de Carvalho. Quem quiser aprofundar sobre a vida do ex-combatente, indicamos o livro “Vale apena Sonhar”, escrito por ele na década de 90, uma autobiografia bastante detalhista.

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