Materiais da FEB “somem” da lista de quartel e Comando dá resposta genérica

Alguns objetos trazidos por Pracinhas do Mato Grosso do Sul – MS e que estavam no antigo espaço cultural Mello e Cáceres, fechado em 2016, em Campo Grande, estão sem destino exato conhecido. Isso é o que aponta levantamento feito pela reportagem aqui do Jornalismo de Guerra.

Em primeiro momento, em maio deste ano, conforme a assessoria do Comando Militar do Oeste – CMO, responsável pelas unidades militares do MS, o acervo teria saído de Campo Grande e sido “realocado para a sala de exposição ‘Marechal José Machado Lopes’, localizada nas instalações do 9º Batalhão de Engenharia de Combate, em Aquidauana-MS”. No entanto, não foi bem assim.

Águia de estandarte fascista, troféu de guerra. Objeto raro.

Em contato com pessoal que serviu e serve em Aquidauana, para saber o que eles haviam recebido da capital, uma lista de itens foi enviada à redação e nela, não constavam dezenas de itens que haviam sido devidamente fotografados em 2015 no espaço Mello e Cáceres (confira o que não teve destino confirmado no final do texto).

Com essas informações, o CMO foi procurado pela reportagem para explicar o paradeiro dos objetos, tendo recebido a mesma lista enviada por Aquidauana e a dos itens ausentes, para que eles próprios pudessem comparar o que estava faltando.

No entanto, a assessoria não respondeu às perguntas feitas pela Redação, não enviou quais materiais estão em posse do Comando Militar (o que foi pedido com ênfase) e pronunciou-se de forma genérica, restringindo-se a dizer que o acervo “encontra-se em sua grande maioria, na sala de exposição e na reserva técnica do 9º Batalhão de Engenharia de Combate, localizado em Aquidauana-MS, e parte, na sala de exposição do Colégio Militar de Campo Grande, nesta capital. Em relação aos armamentos e as munições, foram recolhidos para o Batalhão de Manutenção e Suprimento de Armamento, localizado no Rio de Janeiro-RJ, em outubro de 2019”.

Fonte militar

Uma fonte militar informou que acompanhou o processo de extinção do Mello e Cáceres, na época do desmanche do espaço cultural, contou sob a condição de não ter o nome revelado, que houve uma “peneirada” no material que foi enviado para Aquidauana e que as peças com maior valor histórico foram direcionadas ao Colégio Militar da capital, onde foi montado um espaço cultural para apreciação interna.

Segundo essa mesma fonte, Aquidauana ficou somente com o que não tinha tanto valor histórico e com livros repetidos do acervo do Colégio.

No pedido de informações para a assessoria do CMO, foi perguntado quem definiu o que iria para Aquidauana ou não e quem escolhera a destinação dos materiais. Também não houve resposta.

Informações desencontradas

Em contato com o Colégio Militar, para descobrir se o museu abriga materiais da FEB, a resposta foi que sim, porém, foi dito que o local atualmente está em reforma e fechado para visitação da comunidade escolar.

Sobre a abertura para a população em geral conhecer a história da FEB, a secretaria do Colégio disse que não seria capaz de responder, pois, caberia ao setor de relações públicas e no número que indicaram, que seria do setor de relações públicas, em três momentos diferentes, os atendentes primeiro disseram que era possível e depois que não tinham certeza. Não houve resposta conclusiva se civis podem visitar, se é necessário agendamento ou qual o horário de funcionamento.

Legalmente falando

Diferentemente do antigo espaço cultural de Campo Grande, fechado em 2016, o museu em Aquidauana é homologado como tal e está sob a supervisão da Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército (DPHCEx), o que pelo menos em tese, garante uma maior fiscalização quanto à movimentação de acervos e a qualificação dos militares que servem no local. Em consulta ao site do DPHCEX, o dito museu do Colégio Militar de Campo Grande não consta entre aqueles homologados pelo Exército.

Confira os materiais não listados em Aquidauana e sem confirmação exata de destino pelo CMO:

Confira as armas que teriam sido enviadas ao Rio de Janeiro, conforme o CMO:

Confira a relação de materiais do que foi mandado pelo Auxiliar do Espaço Cultural Marechal José Machado Lopes

Confira a cronologia de contatos para conseguir a lista de Aquidauana:
19/05/2021 – Pedido da lista via Lei de Acesso à Informação;
26/06/2021 – Resposta conclusiva, do Comando do Exército, que a 4a Brigada de Cavalaria de Dourados deveria ser procurada para entregar o documento;
26/06/2021 – 4a Brigada diz que não tem os documentos (por telefone);
29/06/2021 – 4a Brigada comunica por ofício não estar em poder do documento e orienta procurar direto o 9o Batalhão de Engenharia de Combate, em Aquidauana;
10/08/2021 – Sargento responsável por auxiliar no recebimento do material (na época em que foi mandado para Aquidauana), diz não estar com a lista, mas, indica um coronel e um sargento que poderiam ajudar;
19/08/2021 – O sargento e o coronel são consultados por telefone, via WhatsApp e respondem que providenciariam o material;
01/09/2021 – Chega a lista, saída do 9o Batalhão, assinada pelo Auxiliar do Espaço Cultural Marechal José Machado Lopes;
02/09/2021 – Começa a checagem de materiais fotografados pela Redação, no Espaço Cultural de Campo Grande (em 2014), com a lista de Aquidauana.
17/10/2021 – Já sabendo que alguns materiais não constavam na lista, é enviado e-mail com o seguinte teor para a assessoria do CMO:
Olá! Recebi uma lista de materiais enviados do extinto Espaço Cultural Mello e Cárceres, de Campo Grande, para o Museu do 9º BEComb, em Aquidauana. No entanto, vários itens que constavam em Campo Grande não estão na lista enviada por Aquidauana.
Vou fazer uma matéria sobre o SUPOSTO desaparecimento do material da lista. Porém, antes de prosseguir, gostaria de saber se os itens ausentes não foram parar em outro local ou se realmente sumiram de dentro da unidade que os abrigava. Minhas perguntas são:
1. O que pode ter motivado a não inclusão dos itens ausentes na listagem do Museu de Aquidauana? Caso os itens estejam em Aquidauana, poderiam mandar fotos para comparação?
2. Caso os itens não estejam em Aquidauana, onde estão?
3. Se não foram mandados para Aquidauana, quem deu a ordem para não enviar? Por quê?
4. Quem definiu o que ia para Aquidauana ou não?
5. Em caso de desaparecimento, cabe denúncia ao Ministério Público Militar? Por quê?
6. O Comando do CMO atual tem conhecimento do atual destino dos itens ausentes? Aguardo posicionamento do CMO até quarta-feira (20/10), às 12h de Mato Grosso do Sul. Muito obrigado. P.S. Envio em anexo a lista que recebi do 9º BE e a lista que fiz fotos em 2014.

20/10/2021 – A assessoria não responde totalmente as perguntas enviadas:

Matéria atualizada às 18h30 de 21/10/2021 para acréscimo de informações. Caso o CMO responda por completo as perguntas, as respostas, bem como a lista de materiais que eventualmente forem localizados, serão postados aqui neste mesmo espaço.

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