Bastidores: eleito personalidade negra, Pracinha recebeu medalha com doações civis
Recentemente o ex-combatente da Força Expedicionária Brasileira – FEB, Antônio Fermiano, que morava em Campo Grande/MS, foi incluído na galeria de Personalidades Notáveis Negras da Fundação Cultural Palmares. Porém, o que poucos sabem, é que pelo menos até agosto de 2020, ele não tinha uma Medalha de Campanha da FEB, concedida a quem lutou pelo Brasil na Segunda Guerra Mundial.

Isso porque, durante a vida pós-guerra, ele perdeu a dele e por décadas ficou sem a honraria. Coube a pessoas da Internet a realização de uma arrecadação para a compra da lembrança da guerra para reposição, com o apoio de uma loja de militaria do Paraná.
Antônio foi descoberto morando em Campo Grande por membros da Associação Nacional de Veteranos da FEB, Seção Mato Grosso do Sul, em 2018. Porém, o Estado brasileiro não tomou a iniciativa de homenagear e nem de repor a peça histórica, por isso as doações se fizeram necessárias.

Já para a entrega, que ocorreu em 26 de outubro de 2020, o Estado se fez presente com parte da banda do Exército e oficiais. Mesmo não tendo sido um presente das Forças Armadas, a medalha foi entregue pelos militares com a Associação dos Ex-combatentes daquele estado. Tal mobilização chamou a atenção do Governo Federal e neste ano, Antônio recebeu a homenagem oficial da Palmares, ainda que de forma póstuma, pois, faleceu em 06 de abril de 2021.
Sobre Antônio
Ele tinha 22 anos quando embarcou para a Itália e era natural de Botucatu/SP. Na FEB, foi inserido como padioleiro no 1º Regimento de Infantaria. O pracinha era neto de africanos escravizados e antes da guerra era trabalhador rural, ao lado dos pais. Em 1943 ingressou no 18º Batalhão de Caçadores, em Campo Grande, quando foi convocado para a FEB, sendo enviado no 4º Escalão e indo para a função designada, como substituto de algum soldado ferido ou morto em combate.
Esteve em Monte Castello, em fevereiro de 1945 e estava em deslocamento entre o observatório de Sassomolare e a cidade de Montese, localidade identificada como “Cota 758”, em 15 de abril do mesmo ano, quando foi ferido. Um morteiro explodiu perto de um cadáver americano que estava com uma armadilha e estilhaços lhe derrubaram, atingindo-o nas pernas.
Ele voltou da guerra, foi dispensado do Exército, morou em São Paulo e depois se transferiu para o Mato Grosso do Sul. Era bombeiro aposentado. Foi um dos vários Pracinhas abandonados pelo Poder Público no pós-guerra. Levava uma vida tranquila ao lado da família. Tinha diplomas, fotos, muitas lembranças e a Medalha de Sangue pelo Brasil. Porém, faltava a Medalha de Campanha, que perdera ao longo da vida. Foi aí que entraram as boas ações.
Iniciativa de amor e respeito
Mário Santos organizou uma arrecadação virtual para comprar uma reprodução da medalha original e enviar ao senhor Antônio. Porém, além dele, mais pessoas/entidades atenderam ao chamado e o valor arrecadado permitiu comprar uma medalha original para o ex-soldado.
Parte dessa iniciativa contou com a ajuda da Paraná Militaria, por meio de seu gestor e administrador, Mailton Santos, que conseguiu disponibilizar uma medalha em excelentes condições, com preço de custo e envio de cortesia. Depois disso, a Associação Nacional dos Veteranos da FEB, Seção Mato Grosso do Sul se encarregou da entrega com as formalidades necessárias.
Doaram para a causa: Marcelo Gomes, Victor Ferreira, Página V de Vitória, Mário Santos, Lucas Oliveira Lemos, Alexandre Costa, Maicon David, Paraná Militaria e mais quatro doadores anônimos.
Ainda moram no Mato Grosso do Sul, a viúva de Antônio, oito filhos, oito netos e três bisnetos.