Tomada de Montese completa 78 anos

O calendário marcava o dia 14 de abril de 1945. Desde 21 de fevereiro, quando caíra Monte Castello, os brasileiros vinham avançando em terras italianas. O Comando Aliado dera ordem da Ofensiva de Primavera para espantar de vez os alemães do Norte da Itália. O primeiro dia da operação era justamente 14 de abril e os brasileiros ficariam com a missão de capturar Montese.
O pedido da missão, segundo o Oficial de Ligação, Adhemar Rivermar de Almeida, foi um pedido do próprio comandante da FEB, General Mascarenhas de Moraes, que se adiantou ao comando da 10ª Divisão de Montanha e solicitou a missão ao general Mark Clark, do V Exército. Atendendo ao pedido, as tropas brasileiras foram postas nas proximidades da cidadela com traços medievais.
Segundo o tenente alemão, Heinrich Boucsen, da 232ª Divisão de Infantaria, ali ficaram as peças de artilharia e carros de combate por alguns meses. O ataque brasileiro à Montese já era esperado na véspera, no dia 13, quando dois observadores brasileiros teriam sido mortos por snipers alemães, perto do cemitério da cidade. Um partigiani, da Resistência teria conseguido escapar. As informações estão no livro do escritor William Waack.
A missão do primeiro dia era tomar a linha Casone – Il Cerro – Possessione – Cota 745. A movimentação brasileira começou às 10h15. Pela direita, partindo de Sassomolare, brasileiros da 6ª Companhia do II/1º Regimento de Infantaria tomaram Possessione. Creda e Pavarento, ao lado de Montese também caíram frente aos Pracinhas. Os alemães reagiram com três quartos de sua artilharia na região, conforme conta o historiador Dennison de Oliveira no documentário V de Vitória (assista aqui)
Às 13h30, o ataque principal à cidade foi iniciado. A artilharia derrubou mais de 800 das 1.121 casas existentes na localidade. O III e o I Batalhão do 11º Regimento de Infantaria atacaram primeiro, assim que o fogo de artilharia cessou. Em Serreto, tanques americanos deram suporte aos infantes. A Artilharia entrou em ação de novo para calar a resistência alemã. Quando o relógio marcou 15h15, Serreto estava em posse dos brasileiros.

Em uma missão ao lado dos brasileiros, os americanos se batiam em Monte Buffone, que era mais alto que o Serreto. Os brasileiros começaram a levar tiros de Buffone também e não avançaram mais naquele lado do combate.
Desviando caminho e se aproveitando dos avanços iniciais da parte da manhã pelos lados de Possessione, os brasileiros entraram em Montese. Foram pegos 107 prisioneiros entre grande número de mortos inimigos. Ao final da jornada seriam contados 453 alemães presos, entre eles o comandante em Montese. O número de mortos do inimigo se desconhece e quanto aos feridos não há dados, mas, pelas cruzes dispostas do lado de fora do cemitério da cidade, tempos depois da batalha, chegariam às centenas.
Tentativa de retomada?
O medo dos Aliados era que os alemães tentassem um contra-ataque, como já ocorrera em outras ocasiões. Por isso o avanço foi interrompido e o General Mascarenhas, no livro “A FEB pelo seu comandante”, dá a entender que como os objetivos haviam sido atingidos parcialmente, os comandantes pensavam em parar por ali mesmo, mas os oficiais do 11º Regimento de Infantaria queriam continuar. Por isso, se deslocaram no dia 15 para Monte Buffone e dali não arredaram pé, até que os alemães se retirassem, completando a missão que antes era dos americanos.
Porém, os tedescos se reorganizaram e em Montello e cota 758, resistiram aos brasileiros, que tentavam entrar cada vez mais nas linhas deles. Nas palavras de Mascarenhas de Moraes, na obra já citada, as defesas pareciam cada vez mais cerradas. Para rompê-las os brasileiros despejaram só no dia 15, 9.600 tiros de artilharia nos alemães. As baixas brasileiras já estavam altas, em torno de 130, entre mortos e feridos. Por isso o 11º Regimento de Infantaria começou a ser substituído de noite por batalhões do 6º Regimento de Infantaria. As posições brasileiras iam da cota 753 até a cota 913.
O flanco nordeste estava um pouco desprotegido porque os americanos não tinham avançado o necessário na parte que lhes cabia. A maior resistência alemã estava nas cotas 888 e 927, de onde não saíram antes da noite de 16 de abril, quando recuaram.
Montese estava revirada, com tiros para todo lado e morteiros explodindo em ruas e prédios, no meio dos escombros. “Um verdadeiro inferno”, escreveu Mascarenhas de Moraes. Reorganizar as linhas brasileiras era um desafio, pois a cada quadra as bombas caíam mais perto.
O 1º Regimento de Infantaria, no dia 16, entrou no lugar da 10ª Divisão de Montanha em Famaticcia e com isso os brasileiros e americanos resolveram o problema do flanco descoberto no Nordeste. O cerco estava fechado.

O começo do fim
Quando amanheceu o dia 17, o dispositivo brasileiro foi reajustado e no terceiro dia de batalha os alemães foram sendo expulsos de Montese de vez, rumo a Zocca. Os Engenheiros do 9º Batalhão e os homens do Esquadrão de Reconhecimento da FEB foram para a cidade, era hora de capturá-la por completo.
Batalhões do 11º Regimento de Infantaria que foram junto, tiveram que verificar casa por casa, rua por rua aonde estavam os alemães. Campos minados eram muitos e tiveram que ser limpos ainda com morteiros inimigos caindo ao redor. Segundo Mascarenhas, somente o maciço de Montese recebeu mais tiros da Artilharia inimiga que o restante da frente do IV Corpo de Exército todo e olhe que o IV Corpo era formado por outras quatro divisões.
Dennison de Oliveira, na entrevista já citada, atribui esse grande número de fogos inimigos à uma leitura errada do Comando Alemão, que achou que Montese era o ataque principal, quando na verdade eram os americanos que estavam encarregados de ações principais, nas montanhas ao lado. Por isso a FEB teve bem mais dificuldades que os americanos, porque os nazistas destacaram mais tropas e mais artilharia para o setor brasileiro.
O fato é que só em Montese foram disparados 21.200 tiros de artilharia brasileiros. As baixas por unidade foram as seguintes, segundo Agostinho José Rodrigues, no livro “O Paraná na FEB”: o 11º Regimento de Infantaria teve 12 mortos, 224 feridos e sete extraviados; o 6º Regimento de Infantaria teve 14 mortos, 131 feridos e três extraviados e o 1º Regimento de Infantaria teve oito mortos e 22 feridos. Outras unidades juntas tiveram cinco feridos. O total geral de Montese foi de 426 baixas brasileiras até que a cidade fosse considerada segura.
Com a queda de Montese, os brasileiros lutariam ainda por mais 13 dias até a vitória final na Segunda Guerra Mundial, quando mais de 14 mil alemães se renderam em Collecchio, em 30 de abril de 1945.