80 anos: Engenharia da FEB pavimentou a vitória em Monte Castello

Soldados da Engenharia da FEB, no retorno ao Brasil, em 1945, já vitoriosos. Foto do Arquivo Nacional com pesquisa de Helton Costa.

Em 21 de fevereiro de 1945, após quatro tentativas frustradas, um inverno rigoroso e dezenas de baixas, os brasileiros finalmente conquistaram a elevação de Monte Castello, na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial. O Monte, defendido por tropas alemãs, fazia parte de uma cadeia montanhosa que proporcionava aos inimigos pontos de defesa estratégicos, ajudando a controlar a rota 64, que dava acesso a Bolonha.

Os brasileiros haviam tentado tomar a elevação em 24, 25 e 29 de novembro de 1944, e novamente em 12 de dezembro do mesmo ano. A vitória só veio depois e enquanto não obtinham a conquista, os pracinhas permaneceram nos arredores, mantendo a linha de frente na região.

Há um consenso de que a conquista da elevação se deveu ao 1º Regimento de Infantaria da Força Expedicionária Brasileira (FEB), com o apoio crucial da Artilharia Divisionária e da Força Aérea Brasileira. No entanto, ao lado dos infantes, havia outra força de grande importância: os engenheiros, especificamente os homens do 9º Batalhão de Engenharia da FEB.

Foram esses soldados da Engenharia que prepararam o terreno desde o dia anterior, abrindo caminhos para a passagem da Infantaria e da Cavalaria americana.

Dois livros detalham esse trabalho preliminar: “Quebra Canela: a engenharia brasileira na Campanha da Itália”, de Raul da Cruz de Lima Junior (Biblex, 1982), e “História da Arma de Engenharia – Capítulo da FEB”, de Aurélio de Lyra Tavares (UFPB, 1966).

Lima Junior e Lyra Tavares mencionam Monte Castello como um dos três objetivos da Divisão brasileira naqueles dias de 1945, como parte da Operação Encore. Após Monte Castello, viriam a limpeza do vale do Rio Marano e a conquista de Castelnuovo di Vergato, o que se concretizou em menos de duas semanas.

Mapa do ataque final ao Monte Castello com suas legendas. Direto do Relatório Secreto do Comandante da FEB, general Mascarenhas de Moraes (Clique para ampliar).

Para atacar Monte Castello, os preparativos foram feitos sob a proteção de fumaça de geradores, de modo que todo o vale ficasse “invisível”, e à noite os veículos se moviam na mais completa escuridão, sem acender os faróis.

Nesse período, coube à Engenharia melhorar as estradas para permitir o fluxo de mão dupla e garantir que pontos estratégicos estivessem livres de minas e armadilhas, tanto para soldados quanto para carros de combate.

No dia do ataque, 21/02, o 1º Regimento de Infantaria (RI) seria o protagonista, devendo, após a conquista da elevação, consolidar posições também em La Serra, o que foi feito. Um ataque secundário, diversionário, foi realizado pelo II Batalhão do 11º RI, a fim de cobrir o flanco direito do ataque principal.

Resumidamente, o I Batalhão do 1º RI entraria pela esquerda, em uma ação de flanqueamento; o III Batalhão do 1º RI atacaria pela direita, em uma ação frontal, ficando o II Batalhão do 1º Regimento como reserva. O II Batalhão do 11º RI teria a missão descrita anteriormente.

O Início

Primeiro, os americanos entraram em ação com a 10ª Divisão de Montanha, atacando o Monte Belvedere às 23 horas do dia 19 de fevereiro, com dois regimentos. No entanto, os alemães contra-atacaram com grande violência e causaram muitas baixas entre os “yankees”, o que não os impediu de capturar a região de Mazzancana por volta das 17 horas do dia 20.

Com isso, os brasileiros permaneceram com a missão de tomar Monte Castello no dia 21. O ataque começou por volta das 5h30 da madrugada. Durante aquele dia, em algum momento, os brasileiros e os americanos se encontraram no Monte La Torraccia, ocorrendo alguma confusão com disparos de americanos contra brasileiros, o que foi logo contornado. Quando o relógio marcou 17h20, os brasileiros haviam cumprido sua missão, após mais de 12 horas de combate.

A Engenharia

Pela primeira vez na Campanha da Itália, o 9º Batalhão de Engenharia teve uma jornada em que pôde empregar todo o seu efetivo, inclusive com reforços da engenharia americana, para atender aos múltiplos trabalhos que surgiram durante o avanço.

Para acompanhar o 1º RI, foi destacada a 1ª Companhia (Cia) do capitão Floriano Möller, que avançou até certo ponto sob a proteção de tanques americanos, até que estes não pudessem mais se aproximar devido ao bombardeio alemão.

Clássica foto da Engenharia de Combate. Apontando está o Capitão Floriano Möller, do Rio Grande do Sul. Foto da Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército.

Já a 3ª Cia, do capitão Renê Cruz, ficou encarregada de construir duas pontes Bailey no sopé do Monte Castello, nas localidades de La Grilla e Gambiana. Ficaram aguardando o momento de entrar em ação, na rua principal de Porreta Terme. Ali, entraram em contato com a 1029ª Treadeway Bridge Company americana, que ficaria responsável por levar todo o material para a construção das pontes. A tarefa foi cumprida sob forte fogo de artilharia inimiga, mas, uma vez concluída, possibilitou que elementos brasileiros avançassem.

Contribuíram lado a lado com os brasileiros, elementos da 1ª Cia do 235º Batallion Engeneers Combat americano, que mais tarde ainda se juntaram para montar uma terceira ponte, no “by pass” de Crocialle. “Desta forma, foram construídas, quase simultaneamente, três pontes metálicas de grande capacidade, sob o fogo eventual dos bombardeios inimigos”, explica Lima Junior.

Já a 2ª Cia do 9º Batalhão de Engenharia acompanhou o ataque diversionário do II Batalhão do 11º RI, que seguia pelos lados do corredor de Abetaia, o famoso corredor da morte. Ao mesmo tempo em que limpava o terreno de minas e armadilhas, a 2ª Cia destacou parte de seus homens para tornar trafegável a estrada Silla-Bombiana-Abetaia.

Brasileiros da Engenharia de Combate arrumando estrada em Bombiana, posição brasileira bem próxima de Monte Castello.
Foto do livro “Quebra-Canela — A Engenharia Brasileira na Campanha da Itália”, de Raul da Cruz Lima Junior.

Quando Monte Castello já havia sido conquistado, a 6ª Cia do II Batalhão do 11º RI recebeu ordens para ocupar Abetaia, já na madrugada de 22/02, por volta das 2h50. Para que a missão fosse cumprida, a 6ª Seção de Engenharia, comandada pelo 2º tenente Almir Miguez Vinhaes, foi designada para acompanhar os infantes. A surpresa foi que fizeram quatro prisioneiros, que não tiveram tempo de escapar durante o ataque.

Um Caso Triste

Um dia antes do ataque ao Castello, o sargento Luiz Ribeiro Pires havia concluído o curso americano de engenharia e obtido o conceito “excelente”. Ele foi um dos primeiros na School of Mines Warfare and Demolitions. A turma dele era composta por pessoal da 2ª Cia do 9º Batalhão de Engenharia, que contava também, como alunos, com o 2º tenente José da Cunha Maria Viveiros e os mais dois sargentos além de Pires: Josué Dantas Martins e Cleodon da Silva Furtado. Somente Pires obteve a maior nota.

Ele se ofereceu como voluntário para a missão de acompanhar o pessoal do II Batalhão do 11º RI até Abetaia, abrindo caminho, afinal, era da 6ª Seção, que estaria com outra Seção sob o comando do tenente Vinhaes.

O sargento Pires

Para o pessoal de Pires, coube retirar minas do cruzamento de estradas existentes que davam acesso a Abetaia, além de limpar armadilhas em casas próximas. O trabalho seguia dentro do planejado, quando o comando da FEB começou a pressionar por maior rapidez, porque os americanos precisavam da estrada para passar com seus carros de combate. Pires já tinha retirado 11 minas anti-carro com seus homens.

Vinhaes pediu para que o Comando aguardasse mais algum tempo, o que foi recusado e ele ainda foi chamado para explicar a situação. Era madrugada quando Vinhaes deixou o grupo sob o comando de seus sargentos, um deles, Pires. Ele foi se explicar ao Comando.

Vinhaes subiu no jipe como motorista e não havia andado muito quando escutou uma explosão e vários gritos. Acontece que o sargento Pires tinha entrado em uma casa e uma das armadilhas dentro dela havia explodido, soterrando-o e ferindo outros soldados. Pires morreu na hora.

Ficaram feridos o 3º sargento Didio Pereira, o cabo Ivo Branquini e o soldado Otávio Araújo.

Vinhaes pediu que o motorista o deixasse, pois ele faria o resto do caminho a pé até o posto de comando, e pediu que o condutor voltasse para averiguar o que tinha acontecido.

Assim que chegou no posto de comando, ligou para o capitão Hélio Covas Pereira, do II Batalhão do 11º RI, que era o responsável por ocupar Abetaia. Ainda estava no telefone quando o soldado que era o seu motorista voltou trazendo os três feridos.

O tenente Vinhaes se apressou para voltar ao local da explosão e chegando lá, com a ajuda de alguns voluntários, procurou em vão pelo corpo do amigo em meio aos escombros, porém os alemães perceberam a movimentação e começaram a atirar com sua artilharia. Para evitar novas baixas, o tenente suspendeu os trabalhos de busca. O dia já tinha amanhecido.

Quando anoiteceu, munidos apenas com lanternas, Vinhaes mandou homens experientes para procurarem o corpo de Pires, que foi entregue ao Pelotão de Sepultamento. “Levava consigo a última carta que lhe fora remetida por um ente querido do Brasil e que fora distribuída pouco antes de iniciar a missão que o iria imolar, porém, consagrando-o no altar da pátria”, escreveu Lima Junior.

Há versões sobre esta morte. Uma diz que ele teria puxado um fio errado na mina, e ela o estraçalhou[1]. Outra versão, mais detalhada, contada por Ayrton Vianna Alves Guimarães[2], dá conta de que o comando mandou que Pires, Guimarães e mais um cabo fossem até três casas que eles queriam usar como Posto de Observação. Cada um entrou em uma casa, e Pires, o melhor aluno da sua turma da escola de minas, viu um relógio na parede. Os amigos alertaram para que ele não encostasse, porque poderia ser uma armadilha, que os alemães haviam colocado explosivos ali. Ele não escutou e ainda teria dito que tinha o primeiro lugar no curso e isso deveria valer alguma coisa. Dito e feito: mexeu no relógio, e os colegas nas casas ao lado só escutaram o estouro. Pires morreu imediatamente.

Nesta rara foto, a visita do comandante da FEB, general Mascarenhas de Moraes (segundo da esquerda para a direita), ao comandante do 9º Batalhão de Engenharia, coronel Machado Lopes (terceiro da esquerda para a direita). Apresentando o mapa, o major Afonso Augusto Albuquerque de Lima e aqui na direita, o capitão Luiz de Assis Duque Estrada. Foto da revista Manchete, de 1970, comemorativa aos 25 anos da Força Expedicionária Brasileira.

Participaram daquela missão de abrir caminhos para Abetaia o sargento Meroveu Abreu Pereira, o 3º sargento Jonatas Pereira da Costa, os cabos Alyrio Verlangrieri, José Ferreira Rocha, Emanuel Teixeira de Freitas, José Simioni e os soldados Firmo Santa Rosa, Roberto Vasques, Aramis Guimarães, Acacio Lima, Gil Taveira Lobo, Feliz Ferreira, Rubens Esteves Vieira, Francisco Ferreira, João André Corman e José Ferreira Rezende.

O trabalho não parou

A morte de Pires não parou os trabalhos da Engenharia. A equipe do tenente Viveiros, da 4ª Seção, foi mandada para o entroncamento das estradas de Gaggio Montano-Abetaia, porque os tanques americanos precisavam seguir rumo ao monte Belvedere. Por isso, na noite de 22 para 23, o tenente Viveiros e seus homens se deslocaram para Malandrone, descrito como uma vala existente na contra-encosta de Monte Castello.

Por volta das 18h do dia 22, o trabalho foi iniciado, porém, o que eles não esperavam era que os alemães os enquadrariam no fogo de artilharia. Por isso, tiveram que esperar até às 23h para começar a retirar as minas no local, um trabalho que se prolongou até às 4h30 da manhã do dia 23.

Foi ali que encontraram uma Topfmine, que era uma mina de tamanho maior que o normal, toda de material plástico, com detonador químico. Isso era para que não fosse percebida com o detector de metais. Os brasileiros só a encontraram utilizando um equipamento de perfurar o solo, cutucando aos poucos.

Um exemplo de soldados da Engenharia trabalhando com seus detectores de metais. Foto do Arquivo Nacional.

Na operação em Malandrone estavam o 3º sargento Cleodon da Silva Furtado, os cabos Jamil Maroni, José Galdino, Arlindo dos Reis, Sebastião dos Santos Carmo e os soldados José Ota, Célio Francisco Mendes Franco, Célio Monteiro, Joaquim de Souza, Lineu do Amaral Costa e Irio Teófilo.

O trabalho em números

Lyra Tavares descreveu, baseado em parte de combate do 9º Batalhão de Engenharia, os trabalhos de cada Cia em Monte Castello. Segundo ele, a 1ª Cia teve os seguintes números:

  • Retirada de 10 limpet-mines, 20 granadas de retardo alemãs com “trip-wire”, 1 mina de vidro com líquido não identificado (mais tarde verificou-se tratar-se de uma Topfmine), a qual foi encaminhada ao IV Corpo de Exército para estudo;
  • Retirada de duas “booby-traps” luminosas (sinalizadores) e seis minas de estaca com “trip-wire”;
  • Retirada de 22 minas de concreto, 11 granadas ovo e 14 “stick” granadas, quase todas com “trip-wire” partidos pelo efeito dos fogos da artilharia;
  • Localização e detecção de outro campo minado de onde foram encontradas: 17 minas de concreto e três “teller mines” ativadas;
  • Localização e detecção de outro campo minado de onde foram retiradas: 46 minas de concreto, todas já explodidas pelo efeito dos fogos da artilharia;
  • Retirada de 11 “teller-minas” n.º 4 e quatro “stick” granadas com “booby-traps”;
  • Retiradas 28 minas de concreto e mais 26 minas comuns, além de nove “limpet-mines”.

Foi feito prisioneiro um alemão, desertor, pelo Cabo Walter Cinturio que se encontrava como motorista do comando da Cia, junto ao PC avançado do 1.° RI.

Os trabalhos de limpeza de minas prosseguiram até os dias 22 e 23, quando a Companhia recebeu ordem de se recolher ao primitivo estacionamento, tendo, então, a missão de preparar para o tráfego as estradas Gambassima-C. Zolchetti-S. Medelena-Pignarola.

Na 3.ª Cia de Engenharia, o trabalho principal foi a entrega do tráfego da estrada Gaggio Montano-Abetaia, com reconhecimento preliminar no dia 21 de manhã, que culminou com a construção das pontes citadas anteriormente. “Toda a Cia foi empregada, e, felizmente, só teve dois homens com ferimentos leves, recebidos no manuseio do material. A missão foi executada à vista do inimigo, muitas vezes interrompida pelo bombardeio”, comenta Lyra Tavares.

Soldado da FEB encontrando mina. A imagem é uma pose, mas, mostra como era o trabalho. Foto: Arquivo Nacional.

Na 2.ª Cia de Engenharia, que acompanhava o II Batalhão do 11º RI, já em 10 de fevereiro, eles tinham desarmado um campo com 20 minas na cota 791, que foi usada como passagem depois, além de terem procedido à limpeza da estrada Boninsegna-Abetaia.

Na noite de 20/02, eles levantaram dois campos minados lançados pela Infantaria, no lado direito do rio Marano, à frente das novas posições de Postos Avançados, de modo a permitir o deslocamento dos elementos da Infantaria em próximas missões. Foram retiradas 39 minas.

No dia 21, à tarde, os soldados da 2ª Cia retiraram um campo minado no quilômetro 2 da estrada Gaggio Montano-Abetaia, limparam a casa à direita da mesma, retirando de seu interior quatro armadilhas de tração e um “very light” (sinalizadores).

Imediatamente à noite, para a proteção dos homens em trabalho, foi limpa de minas a estrada até o entroncamento das vias Boninsegna-Gaggio Montano, sendo retiradas nove “teller-minas” n.° 2. Foram limpas de Abetaia duas casas e terrenos vizinhos, sendo deixada a vigilância, certos de que já poderiam se deslocar para Abetaia.

Eles também mapearam os caminhos das rotas L-581190 a L-581192, inclusive as casas e dependências, sem que os objetos suspeitos fossem removidos.

Nesta mesma noite de 22/02, outra turma da 2ª Cia, já junto com a Infantaria, procedeu à limpeza de uma faixa na direção Sul Noroeste do Morro Dell’Oro, que se encontra para o rio Marano, tendo localizado e removido quatro armadilhas dispersas que faziam parte de uma cinta de proteção lançada pela própria Infantaria dias antes. No dia 27/02, a 2ª Cia ainda encontrou na região da estrada de Silla-Boninsegna 650 minas, tipo MAIAI, que mais tarde foram explodidas porque não era possível desarmar um campo tão grande.

Pós Monte Castello

Tão logo Monte Castello foi conquistado, a 1ª Cia foi deslocada para a segunda fase da campanha e se moveu para Cá di Zolfo e Fornello, permanecendo aí por cinco dias, até que subiu o monte Belvedere em substituição aos engenheiros da 10ª Divisão de Montanha americana.

A 2ª Cia continuou os seus trabalhos no eixo Silla-Bombiana (quando encontrou o campo minado gigante), e a terceira retornou às suas atribuições em proveito dos setores Norte e Leste.

Estrada Silla-Bombiana, depois de bastante melhorada pela engenharia da FEB. Foto devidamente cedida pelo Museu da Imagem e do Som da Associação Nacional dos Veteranos da FEB – Direção Central. 

A 3ª Cia retornou para sua base de partida para aguardar novas missões, da parte que lhe caberia na limpeza do vale do Rio Marano.

As baixas da engenharia foram de um morto e três feridos: justamente o sargento Pires e seus homens.

Dali partiriam para a segunda etapa da Operação Encore, a limpeza do Vale do Marano, mas esta é outra história. Monte Castello entrara para a história e as mortes diretamente relacionadas à sua tomada, nos cinco ataques, somaram 127, fora outros centenas de feridos e acidentados.

Sobre a Engenharia

A Engenharia da FEB foi criada pelo Decreto 4.799 de 06 de outubro de 1942, com organização a partir de 07 de novembro do mesmo ano, em Aquidauana, na época Mato Grosso e hoje Mato Grosso do Sul. Foi essa a cidade escolhida para receber os soldados. O quartel de Aquidauana fica ao lado dos trilhos de trem que cortam o município.

A Engenharia da FEB era bastante especializada, a ponto de, dos 720 homens das três companhias, 500 serem especialistas, um percentual de quase 70%. Nas outras unidades, esse número não passava de 15% (LOPES, 1981, p.19).

Coube à 1ª Companhia embarcar no primeiro escalão da FEB e ser o primeiro grupo de soldados brasileiros a entrar em combate. Isso porque, quando o calendário marcou 04 de setembro de 1944, a 1ª Cia já estava no front ao lado do 4º Corpo do V Exército, sendo que no dia 07 daquele mês estava pronta, em plena linha de frente, a “Ponte Independência”, assim batizada em homenagem à data.

A 2ª Cia e a 3ª Cia partiram com o segundo escalão, em 22 de setembro de 1944, e chegaram em 06 de outubro de 1944. A 2ª Cia entrou em linha em 12 de novembro. Ou seja, o treinamento foi completado no próprio campo de combate.

Formatura da 2a Cia do 9° Batalhão de Engenharia da FEB, na frente de Monte Castello, para entrega de condecorações pelo Comandante do Batalhão, Coronel Machado Lopes. O acompanhavam o comandante da 2ª Cia, Capitão Raul Cruz Lima, o major Sady (S3 do Batalhão) e o Capitão Júlio (subcomandante da 2a Cia). Lá na segunda fileira seguem outros oficiais do Batalhão e da Cia. Foto do livro “Quebra Canela”.

Ao final da Campanha, seriam contabilizados mais de 173 km de construções, 130 km de reparos em vias, quase 36,5 km de melhoramentos, aproximadamente 662 km de manutenção, 6.950 m³ de movimento de terra, 3.001 m³ de empedramentos, uma desobstrução de túnel, 12 pontes Bailey construídas, duas pontes do mesmo tipo reparadas, 95 bueiros construídos, seis muros de arrimo construídos e outros seis reparados. Também foram produzidas 30.922 cartas topográficas do front, entre dezembro de 1944 e maio de 1945 (LYRA TAVARES, 1966, p.155).

Ainda houve a tarefa de fornecer água em grande quantidade. De novembro de 1944 a fevereiro de 1945, foram 6.432m³ de água tratada e pronta para o consumo humano. Apenas o gosto de cloro é que era muito forte (CASTELLO BRANCO, 1960, p.328).

Somado a esse trabalho, houve ainda a retirada de neve das estradas, por quem nunca tinha visto neve na vida. O trabalho no inverno era contínuo, 24h por dia e, além disso, ainda havia os planos de defesa contra ataques alemães, inclusive de paraquedistas. E era um trabalho pesado, o que fica explícito na quantidade de materiais consumidos com essa finalidade. Foram dois mil metros de redes extensíveis, 1.300 chapas de bueiro ARMCO, 80 mil sacos de areia e 300 galões de camuflagem. Isso sem contar que sempre que uma patrulha saía, era comum haver um especialista da Engenharia junto para abrir caminho ou limpar o terreno de minas. Até condições de banho e banheiros eram tarefas para a Engenharia (CASTELLO BRANCO, 1960, p. 329; LOPES, 1981, p.53; LYRA TAVARES, 1986, p.93).

Abetaia com Monte Castello ao fundo. Arquivo CPDOC-FGV. Reproduzida com autorização da Fundação.

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Bibliografia Consultada

CASTELLO BRANCO, Manoel Thomaz. O Brasil na II Grande Guerra. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1960.

LIMA JUNIOR, Raul Cruz. Quebra Canela. Rio de Janeiro. BIBLIEx,1982.

Lopes, José Machado. O 9º Batalhão de Engenharia de combate na campanha da Itália. Rio de Janeiro, Biblioteca do Exército, 1981.

LYRA TAVARES, Aurélio de. História da arma de Engenharia: capítulo FEB. Universidade Federal da Paraíba, 1966.


[1] DOURADO, Joaquim de Jesus. Estou Ferido. Homens que lutaram e a Guerra acabou. Fortaleza: Universidade Federal do Paraná, 1972, p.194.

[2] GUIMARÃES, Ayrton Viana. Do Teatro ao Teatro de Guerra: caminhos e descaminhos de um pracinha na Segunda Guerra Mundial. Pernambuco: Edição Independente, 2001, p. 99.

um comentário

  • Luís Otávio Guimarães
    Avatar de Luís Otávio Guimarães

    Muito bom esse conteúdo, parabéns! Meu avô, Ayrton Vianna Guimarães, sempre reunia bastante gente quando começava a contar sobre os acontecidos da II Guerra Mundial. Saudades eternas desse que foi e é um grande exemplo pra todos os amigos que o conheceram, especialmente nós da familia Guimarães.

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