Exclusivo: acervo da FEB deverá estar digitalizado e público até dezembro
Três anos após a primeira notícia sobre a digitalização do acervo da Força Expedicionária Brasileira – FEB, surge uma boa notícia para pesquisadores e interessados no assunto. É que todo o arquivo que conta sobre a participação brasileira do front italiano está prestes a ter o escaneamento concluído e tornado público de maneira on-line. Pelo menos é isso que garante o pessoal encarregado do Arquivo Histórico do Exército – AHEx. Segundo a assessoria da instituição, até dezembro deste ano, todo o trabalho deverá estar concluído.
É um quadro bastante diferente de 2021, quando a assessoria da instituição informou que não havia “nenhuma atividade em andamento para a digitalização do acervo da FEB”.
Assessores da AHEx explicam que o órgão possui sob sua guarda nada menos do que 70 metros lineares de acervo “do gênero textual” sobre os pracinhas, e que está em curso “um projeto de digitalização, higienização, acondicionamento, arranjo e descrição arquivística dos documentos do fundo FEB, com previsão de conclusão até dezembro de 2024”.
Em 2021, a instituição defendia que possuía uma Divisão de Processamento Técnico, porém, com “reduzida capacidade para o trabalho de digitalização”, ou seja, faltava pessoal. Agora, “o acervo já está sendo digitalizado, mediante uma parceria com Assessoria de Doutrina do Departamento de Educação e Cultura do Exército – DECEx”. Eles garantem ainda que “a finalidade é que o acervo seja disponibilizado para consultas pela internet por meio de sítios eletrônicos”.
Conforme os militares, “a digitalização dos documentos é realizadas pela “Divisão de Processamento Técnico”, dentro de “um plano de digitalização anual, no qual são detalhadas as prioridades de acordo com os documentos mais pesquisados”. “Atualmente, estão sendo realizadas as reproduções de códices militares de Dom João VI. As digitalizações também são realizadas sobre demanda dos usuários dessa instituição arquivística, pesquisadores e consulentes”, explicam.
De acordo com as respostas enviadas, todo o processo está sendo feito com recursos próprios. Em 2021, acreditava-se que a média de papéis da FEB giraria em torno de 180 mil a 350 mil páginas (na maior das suposições). Já o valor da digitalização, se fosse feita de forma particular, ficaria entre R$ 36 mil e R$ 70 mil. As respostas enviadas pela assessoria dão a entender que trabalhos externos não foram necessários, pois, estão sendo feito por pessoal interno do próprio AHEx.
É um avanço bastante significativo em relação a 2021, quando o AHEx revelou ter digitalizado 23.500 documentos gerais de todo o seu acervo no ano anterior, uma média de 93 documentos por dia, se contados apenas os dias úteis de 2020.
Um problema que será solucionado em breve
Os documentos da FEB ainda estão em caixas de madeira dos anos 70/80, e a subpastas também são as mesmas de cartolina, também de 50 anos atrás, algumas já sofrendo com ação do tempo e se deteriorando, fato confirmado pelo AHEx.
Porém, segundo o pessoal do Arquivo Histórico, esta é uma situação com dias contados, pois, dentro do projeto de tratamento do material da FEB, “está sendo realizado o novo acondicionamento em caixas especiais, sob medida, forradas com papel alcalino para garantir a preservação dos documentos históricos em longo prazo, de acordo com as normas arquivísticas”. “O AHEx possui, ainda, em andamento, o “Projeto da Nova Sede”, onde as novas instalações serão construídas atendendo todas as normas arquivísticas”.
Em 2021, a assessoria tinha se posicionado com ênfase alegando que “o acervo documental da FEB sob nossa guarda, é muito vasto e está perfeitamente cuidado e organizado, estando à disposição dos pesquisadores para ser consultado em nossas instalações”, afirmação que agora é possível avaliar que não era totalmente correta, já que a atual gestão confirma que “não houve atualização do local de armazenamento”, comprovando que ainda há falha no processo de acondicionamento, mesmo que de forma provisória.
A Redação esteve no acervo em 2019 e percebeu que havia todo um cuidado com os documentos, mas, que estavam guardados de forma não recomendada. Fontes que tiveram acesso ao arquivo em 2022 e 2023, confirmaram que a situação ainda persistia.
No entanto, a assessoria atual garante que quando um acervo chega para a instituição, passa por quarentena, tratamento e higienização, indo para os depósitos em seguida e sendo inserido em um no plano mensal do monitoramento ambiental.
Acervo alemão ainda é desconhecido
A reportagem ainda questionou sobre se o Exército Brasileiro teria conseguido os documentos sobre a FEB, em posse dos alemães, que se encontram no Bundesarchiv Militärarchiv, de Freiburg/Alemanha e em Berlim. A resposta foi que, o AHEx desconhece tais fontes. “Entretanto, a partir da presente informação, serão realizadas tratativas com a Aditância do Exército Brasileiro na Alemanha para buscar dados a respeito do tema”.
Os arquivos citados são conhecidos no meio acadêmico e de intusiastas, pelo menos desde 1985, quando o jornalista William Waack publicizou ter pesquisado em tais arquivos para escrever o seu livro “As duas faces da glória”, sobre a FEB.
Em 2021, o Exército já havia sido perguntado sobre o tema e também havia respondido que desconhecia a demanda, tendo ficado por isso mesmo, conforme se pode observar com a resposta de 2024. Recentemente, a Redação teve conhecimento de que pesquisadores brasileiros, por meios próprios, tiveram sucesso em acessar e digitalizar parte do acervo que está na Alemanha.
O próximo passo
Agora, reportagem continuará acompanhando o caso, para que o trabalho de questionamentos sobre o acervo, iniciado em 2021 e que, só agora, em 2024, apresenta perspectivas positivas de materialização, seja de fato concluído, garantindo assim o acesso de informações aos cidadãos e cidadãs interessados e interessadas na história militar dos brasileiros na Segunda Guerra Mundial.
Notícias anteriores que cobravam sobre o acervo diretamente ou indiretamente:
Jornalismo de Guerra 